Algumas vezes é difícil entender que se está de luto, principalmente quando o luto não é pela morte de uma pessoa próxima - fim de um relacionamento, mudança de emprego, saída dos filhos de casa, realização de um novo desejo que exige decisões, etc. Para cada pessoa um termômetro. É que no luto, algo da cada um se vai, se perde, mas é importante perceber que outra coisa irá se apresentar. Pode haver muita ansiedade nesse momento, às vezes devido à negação ao luto, na recusa em internalizar o que ficou dos restos, das imagens, das sensações do que não é possível retornar. E agora o caminhar é uma espécie de futuro sem endereço certo. Mas não há construção pelo passado sem a aceitação do presente. A dor sentida é amenizada se o corpo aceita. O cronômetro, esse tempo medido, somado à neurose de explicar tudo, impele a uma exigência (interna ou externa) de ter que fazer algo: ter que superar, ter que construir uma meta para ficar melhor, ter que entender demais as coisas, a ter (significante interessante de observar na contemporaneidade). Seria uma espécie de controle? Então deixar de controlar pode ser também enlutar. Pode-se escolher não agir se não é possível, dar tempo para observar e vivenciar as sensações mais sutis e profundas. Pode-se sentir o sentir, ainda que seja a dor. E o mais interessante é que isso tem a ver com amor! Amor por si, pela vida, pela experiência, pela passagem, pelo movimento da vida.
jupautilla