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REPETIÇÃO

  • jupautilla
  • 20 de dez. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 9 de jul.



Imagem de Xavier Bou. Fotografia com a técnica de longa exposição. Movimento de pássaros.
Imagem de Xavier Bou. Fotografia com a técnica de longa exposição. Movimento de pássaros.

O conceito de repetição na psicanálise é fundamental para entender o processo clínico, o processo mesmo da análise. Você vai a um psicanalista e sempre diz: mas eu estou repetindo, é muito repetitivo o que eu faço, eu não suporto mais repetir isso ou aquilo. A repetição especialmente para Freud e Lacan, que não quer dizer apenas “fazer algo novamente”, mas uma marca pulsional que insiste. Nesse sentido é uma manifestação do inconsciente.


No texto “Recordar, repetir, elaborar” (1914) de Freud, o autor diz que aquilo que não pode ser lembrado, é atuado, ou seja, repetido no comportamento, nas relações e aparece na transferência com o analista. Por isso é um importante material clínico, porque é onde o inconsciente se manifesta. Já em 1920, em “Além do princípio do prazer”, Freud nota que certas repetições não visam prazer ou satisfação, mas causam sofrimento. O que se repete é um mesmo que traz ansiedade e dor, e por isso vai além do princípio do prazer.


Na filosofia da diferença, a partir de Deleuze, do ponto de vista clínico se faz uma dobra, sendo que a repetição pode ser a produção de diferença, transformação e produção de algo novo. A repetição como força criadora. Cada vez que algo se repete, algo singular se afirma. Não somos definidos por uma essência fixa, mas pelas repetições que nos diferenciam, que nos tornam quem somos.


Mas e quando pensamos nas estruturas sociais, sobre o esforço para não repetir modos de agir que perpetuam ações opressivas? Nesse sentido é necessário perceber nossas ações no mundo. Perceber em que situações somos privilegiados e/ou subalternizados, as relações de poder que perpetuamos. Muitas dessas relações estão impressas na vida de maneira que parecem nunca mudar. Ao tomar consciência da nossa condição, da nossa história de vida e nossas relações sociais, podemos nos implicar sim em mudanças. Um caminho ético. A colonialidade na forma capitalista como a conhecemos hoje, é um sistema de opressão que não tem uma perspectiva de fim, porque muda seu rosto a cada tempo histórico.


Para uma vida desejante é necessário pensar na potência de produção de cada singularidade para criar novos modos de vida, de corpo, de pensar, de existir. O desejo é deslocamento. É o inconsciente. Não há um "modelo ideal" de ser ou viver. O que há são múltiplos modos de desejar e de se fazer existir.

A ética do desejo não é seguir um caminho certo, mas inventar o próprio caminho, com contradições, falhas e repetições.



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